Confira como foi o PODCAST MÃOS À OBRA sobre São José dos Campos Carbono Neutro
Publicado em 13 de junho de 2025
No último dia 16 de junho, a AEA/SJCampos realizou mais uma edição do Podcast MÃOS À OBRA, trazendo ao centro do debate um tema de urgência global: a descarbonização das cidades. A conversa foi mediada pelo presidente da AEA/SJCampos, o Eng. Civil Carlos Vilhena, e contou com a participação de dois convidados fundamentais para esse processo, o Secretário Municipal Marcelo Manara e o CEO da DEEP, Arthur Covatti.
O tema central foi a participação pioneira de São José dos Campos no projeto “Cidades Carbono Neutro”, liderado pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e pela FAPESP. Com um investimento de R$ 31 milhões ao longo de cinco anos, São José se tornou a primeira cidade do Brasil a adotar um plano estruturado de transição para a neutralidade de carbono.
Arthur Covatti, CEO da DEEP — empresa responsável pela mensuração das emissões da cidade — explicou o conceito. “O carbono é um subproduto de várias atividades humanas, um resíduo urbano que se acumula na atmosfera. E a atmosfera é um bem comum, compartilhado por todos. Esse resíduo esquenta o planeta e gera as mudanças climáticas. Esse debate começou nos anos 90, mas agora os efeitos já impactam diretamente a economia e a vida cotidiana.”
Covatti também destacou que algumas cidades ao redor do mundo, como Londres, Nova York e Glasgow, já firmaram compromissos de neutralidade de carbono e agora São José dos Campos entra para esse seleto grupo. “O compromisso é de que, em determinado período, a quantidade de carbono emitido será igual à capturada. Isso traz uma série de vantagens, inclusive atrair investimentos e empresas com o mesmo compromisso ambiental.”
O Secretário Marcelo Manara ressaltou o papel fundamental da AEA e dos profissionais da engenharia no processo. “Esse é um assunto técnico e complexo, que precisa ser executado com base em conhecimento científico. A engenharia é essencial nesse processo. As mudanças climáticas já são visíveis, tanto em áreas urbanas quanto rurais, e os engenheiros têm a capacidade de orientar projetos e obras com foco em sustentabilidade.”
O presidente Carlos Vilhena reforçou o engajamento da Associação na iniciativa. “A AEA já está desenvolvendo ações nesse sentido. Não conseguiremos neutralizar todas as emissões, mas podemos e devemos educar a sociedade. A educação promove o engajamento. Nós somos o planeta e temos que cuidar dele.”
O debate também abordou questões regionais. Vilhena questionou Manara sobre os desafios da conurbação com cidades vizinhas, ao que Covatti respondeu que “é fundamental que essas ações sejam regionais. Com a integração de políticas públicas, é possível gerar compensações e criar uma economia circular do carbono. Já estamos reunindo secretarias municipais para discutir os planos diretores, que são as políticas públicas-mãe do ordenamento territorial.”
Ele acrescentou que a meta é chegar à COP 30 como a região mais bem inventariada do Brasil, com dados concretos sobre emissões e projetos de transição energética. “A COP 30 precisa ser a COP das soluções. Vamos falar de financiamento climático, tecnologias de transição, startups de mensuração barata e eficaz. Temos um potencial enorme para liderar esse tema globalmente”, afirmou.
O secretário Manara lembrou que, paralelamente ao projeto em São José, o Estado de São Paulo lançou em 5 de junho o Plano Estadual de Adaptação e Resiliência, chamando todos os municípios a investirem em infraestrutura verde e soluções baseadas na natureza. Outro ponto de destaque foi a relação direta entre a mudança climática e o cotidiano das pessoas. Covatti alertou que “atualmente já vemos desertificação avançando no Nordeste e chuvas torrenciais seguidas de secas severas no Sul. Não é mais uma ameaça distante — já está aqui.”
Durante a conversa, os convidados também falaram sobre a relevância de instituições como a EMBRAPA, com destaque para a cientista Mariangela Hungria, premiada por suas pesquisas com insumos biológicos. “Nossos pesquisadores precisam ser valorizados. O IPT também é um desses centros fundamentais — foi quem estruturou esse projeto em São José, afirmou o secretário.
Foram citadas ainda empresas inovadoras que atuam no Parque de Inovação Tecnológica e que oferece soluções em inventário de carbono e tecnologias para o mercado de créditos de carbono.
Sobre o papel da engenharia em todo esse processo Covatti enfatizou que “a maior parte da emissão de carbono de um produto é determinada na fase do projeto. O engenheiro é quem decide os materiais, os processos de fabricação, o descarte. Ou seja, a descarbonização começa na prancheta.”
Manara completou apontando que “essa é uma nova frente de trabalho. Projetar com foco nas emissões será um diferencial. Quem não acompanhar essa transformação, ficará fora do mercado”.
Carlos Vilhena reforçou a importância de investir desde cedo na formação de novos talentos. “Precisamos atrair jovens para a engenharia e as tecnologias desde o ensino fundamental. A educação é chave”. Dentro deste tema Manara elogiou as políticas públicas educacionais de São José dos Campos, que oferecem ambientes atrativos, acesso à tecnologia e ao esporte, enquanto Covatti destacou: “Nós, profissionais, também temos o dever de ir às escolas e mostrar aos estudantes o futuro da engenharia. Eles precisam ver o potencial transformador dessa área.”
O Podcast MÃOS À OBRA, mais uma vez cumpriu sua missão de trazer debates estratégicos e de impacto direto na vida das pessoas. Com um olhar técnico e multidisciplinar, o programa reforça a importância da colaboração entre setor público, privado, educacional e sociedade na construção de um futuro mais sustentável e justo.